Francisco Bosco citou estudo e apontou que teses de ciências humanas no Brasil quase não citam pensadores conservadores
O filósofo Francisco Bosco, filho do cantor João Bosco e apresentador do canal GNT, da Globo, avaliou que as universidades brasileiras concentraram-se “excessivamente uma perspectiva ideológica e política de esquerda” e que, atualmente, alguns dos autores conservadores “mais importantes do mundo praticamente não são mencionados nas teses de ciências humanas do Brasil”. Nesse ponto, o escritor de 47 anos se disse obrigado a dizer que o filósofo de direita, Olavo de Carvalho, tinha razão.
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– No fundo, a universidade no Brasil está sob suspeita, por boas e más razões. As boas razões dizem respeito ao fato de que, durante as últimas décadas, a universidade brasileira concentrou excessivamente uma perspectiva ideológica e política de esquerda. Eu estudo, por exemplo, um autor de direita que fez uma verificação nos bancos do CNPq e mostrou que alguns dos autores conservadores mais importantes do mundo praticamente não são mencionados nas teses de ciências humanas do Brasil – expôs.
– Embora me custe dizer essa frase, eu a digo frequentemente, sem problema algum: Olavo tinha razão nesse ponto. Então, a palavra “intelectual” hoje é vista sob suspeita de elitismo e concentração ideológica. Esse é o lado correto. O lado incorreto é que, normalmente, os grupos políticos “intelectofóbicos” não trabalham com argumentos e usam fake news. Então, a alternativa à elitização do debate intelectual não pode ser a ignorância e a má-fé. A alternativa tem que ser a pluralidade ideológica – completou.
Francisco Bosco, que é ensaísta com doutorado em literatura e já foi presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) entre 2015 e 2016, também abordou os grupos identitários no debate público digital.
– O debate público é justamente o lugar onde pessoas de direita, de esquerda, cristãos, candomblecistas, ateus, etc., vão debater os problemas sociais. E as pessoas têm que participar disso de boa fé. O que aconteceu desde a emergência dos algoritmos nas redes sociais é que as pessoas estão organizadas largamente em grupos identitários. Então, de novo, na tragédia do RS o que você vê do ponto de vista das disputas nas redes? Há um grupo de direita que procura criticar o Estado, não importa se com argumentos verdadeiros ou com fake news, enquanto a esquerda fica tentando também disputar o episódio e puxar a sardinha para o seu lado. Isso está degradando o debate público – acrescentou.
Ele ainda comparou os grupos político-ideológicos com torcidas organizadas e defendeu a intervenção do Estado nessa questão.
– É a mesma coisa. O Estado deve intervir? Eu acho que sim. Nós estamos atrasados no Brasil no sentido de uma legislação que seja capaz de tornar os algoritmos mais transparentes e dotá-los de maior responsabilidade. Essa legislação é muito sensível, porque não é fácil fazer isso sem violar princípios de liberdade individual. Para termos esse debate, precisaríamos de um congresso e de uma sociedade despolarizada. É justamente o que não temos – completou.
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