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Da arte à economia

Evando Moreira
Jornalista, fundador, editor, analista político.

Como já dizia uma quase desconhecida canção do Legião Urbana, que se faça do “bom-senso a nova ordem”. Entretanto, mesmo em tempos de crise é preciso procurar mostrar atitude e buscar a reflexão. Conversamos então com o empresário Elano de Paula, que já viu muitas crises, mas continua procurando aprender e tirar lições dos momentos

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(Foto: Mauri Melo)

Elano de Paulo

Vários caminhos, profissões e talentos. Numa trajetória de 86 anos de vida, o empresário e engenheiro civil, pos-graduado em economia, Elano de Paula escolheu apostar nos sonhos do momento. O irmão mais velho de Chico Anísio passou pelo rádio, onde chegou a ser o principal locutor da Rádio Guanabara, no Rio de Janeiro; foi diretor da TV Tupi; autor de músicas como “Canção de Amor”, que fez sucesso na voz de Elizeth Cardoso, e ainda encontrou tempo para ser um homem de negócios do mercado de construção e finanças.

No Ceará fundou a Credimus e a Domus. Foi conselheiro e diretor do Banco Nacional de Habitação (BNH), além de diretor de marketing da instituição, com várias campanhas de sucesso sobre a caderneta de poupança. Como aquela em que a sua caderneta “cresce e aparece”. Também foi atleta, tendo participado de vários torneios internacionais de equitação.

Hoje, Elano de Paula trabalha para transformar a Domus, empresa de financiamento imobiliário que ficou algumas décadas apenas recebendo o pagamento de dívidas de mutuários, numa companhia de crédito hipotecário. Um trabalho de dois anos que está sendo viabilizado agora, mesmo com a recente crise financeira internacional, que começou justamente com o setor imobiliário americano. Otimista, ele acha que nesse momento de redefinição mundial o Brasil vai se sair bem, embora o mundo deva acumular riquezas menores.

Viúvo, depois de um casamento de quase 50 anos, Elano casou novamente com Lourdes, de apenas 35 anos, e divide boa parte do seu tempo entre os negócios no Ceará e o seu apartamento no Rio de Janeiro. Adora cavalos e passear de jet ski, e ainda tem uma grande contribuição a dar as novas gerações do mercado financeiro.

O POVO – O senhor é o irmão mais velho do Chico Anísio; como é sua relação com ele?
Elano de Paula – A relação do Chico comigo sempre foi muito boa. É uma relação apaixonante. Nós não nos chamamos de irmãos, nem de Chico nem de Elano. Nós nos chamamos de “parceiro”. O Chico não faz nada sem me ouvir. Sou um fã incondicional dele, embora ele seja uma pessoa difícil de lidar. Mas me acostumei a lidar com ele. Sei de cor e salteado tudo aquilo que não agrada a ele. Entramos para o rádio juntos. Ele como rádio-ator, eu como técnico em áudio.

OP – O senhor tem uma trajetória diferente da de seu irmão. Passou pelo rádio, pela arte, pelo mercado financeiro e pela construção civil…
Elano de Paula – …passei pelo Exército, passei pela arte, passei por televisão, passei por fábrica de discos. O primeiro LP (long play) brasileiro fui eu que fiz, chamava-se LP Rádio. Passei por fazendas, indústria rodoviária, indústria da construção civil, mercado de capitais. Eu acho que da engenharia civil a economia e, por estranho que pareça, um pouco de veterinária, fiz um pouco de tudo. E fiz um curso de bovinocultura.

OP – E na área de habitação?
Elano de Paula – Na área da habitação eu fiz tudo que um empresário pode fazer. Fui assessor técnico do BNH (Banco Nacional da Habitação) – aquele slogan “onde o seu dinheiro cresce e aparece” é meu – e fui assessor de marketing da caderneta de poupança. Terminei minhas atividades junto ao BNH como Conselheiro de Administração.

OP – O senhor viu muitas crises na área econômica. Como está vendo essa loucura do mercado financeiro?
Elano de Paula – 40% do PIB americano (soma de todas as riquezas do País) é aplicado na área imobiliária. No Brasil, o percentual é de 4%. Então, lá é importante que a empresa financiadora se apresente com um índice elevado de aplicações em ações. Isso fez com que a direção das empresas fomentasse negócios imobiliários. A direção das empresas voltava ao mutuário para sugerir um aumento de empréstimos, já que o imóvel garantidor da primeira operação havia subido de valor. Montava-se , então, um acréscimo no valor do empréstimo, além daquilo que o imóvel garantia. Era o subprime.

OP – Mas porque então a crise se espalhou pelo mundo?
Elano de Paula – Como a moeda americana é uma moeda internacional e o mercado americano é o maior do mundo, esse problema se espalhou, afetando as economias internacionais. Com isso, vai ocorrer uma queda no PIB de todos os países, reequilibrando o mercado num outro nível. Mas o estouro da boiada nada significa; apenas mostra que os bois correm todos para um outro lugar.

OP – Para onde eles estão correndo, então?
Elano de Paula – O mercado está louco. Estão correndo para todos os lados. Todo o mundo está procurando aplicar atos regulatórios para acalmar a boiada, mas não estão achando. Daqui a pouco a boiada cansa e vai haver uma calmaria total. O problema é que existia um PIB falso. Nós estamos vivendo um problema complicado, que mistura liquidez com desemprego e recessão. Mistura-se uma série de problemas econômicos e, como você sabe, todos os remédios exigem dosagens certas porque todos têm efeitos colaterais.

OP – O senhor estagiou na Fannie Mae e na Fraddie Mac, que eram as maiores companhias securitizadoras dos Estados Unidos, as quais sustentavam mais da metade da dívida hipotecária daquele país e que tiveram que sofrer intervenção do Governo…
Elano de Paula – (N. da R.: o estágio dele) Foi em 1972. Passei 15 dias estudando nos Estados Unidos a forma de como aplicar no Brasil o segmento secundário de hipotecas, que chegou aqui 30 anos depois, quando criaram as nossas empresas securitizadoras.

OP – O que o mercado de securitização faz de diferente em relação a outros mercados, como o imobiliário?
Elano de Paula – Ele adquire os créditos feitos pelas empresas financiadoras de imóveis através de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). Eles compram certificados oriundos de recebíveis emitidos pelas empresas construtoras e dão um resultado financeiro da aplicação. Constitui-se um crédito e lança-se um papel lastreado nesses créditos oriundos dos financiamentos imobiliários feitos. Como o mutuário paga um juro e uma correção monetária, parte disso é que vai alimentar o CRI, remunerando seus compradores.

OP – A Domus fez parceria com duas companhias securitizadoras: a Rio Bravo, que teve participação do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e a CNR…
Elano de Paula – Essa parceria foi suspensa por seis meses, que é o tempo que as empresas acham necessário para que haja uma nova definição no mercado internacional.

OP – A Domus tem 40 anos e passou muito tempo parada…
Elano de Paula – Desde que o BNH fechou, na crise da caderneta de poupança, na década de 80, para ser mais preciso. Na época existiam muitas Sociedades de Créditos e APEs (Associções de Poupança e Empréstimos). Algumas foram vendidas aos bancos, outras foram liquidadas pelo Banco Central e sobraram 12 instituições em condição de captar recursos e captar poupança no mercado. A Domus é uma das 12 que sobraram no Brasil.

OP – E essas empresas que sobraram, ficaram fazendo o quê?
Elano de Paula – Ficaram recebendo os créditos dos mutuários e repassando os recursos para os fundos então geridos pela Caixa Econômica, até terminar toda a dívida que existia desde a época do BNH. Ou seja, estávamos administrando créditos podres. A Domus é a primeira a terminar esse trabalho e quitar a dívida que mantinha com os fundos. Tanto assim que já solicitamos ao Banco Central a carta patente de companhia hipotecária.

OP – O que vai mudar se você conseguirem essa carta patente?
Elano de Paula – A companhia hipotecária poderá fazer tudo que uma sociedade de crédito imobiliário faz. Ou seja, ela terá acrescido no seu objetivo social a prerrogativa de tomar dinheiro emprestado aqui e no exterior e emitir debêntures.

OP – Vai adiantar alguma coisa nesse momento de falta de liquidez?
Elano de Paula – Abrirá caminho e prestígio. Poderemos abrir capital. Já são dois anos de luta. As exigências são muitas.

OP – Qual era a dívida da Domus?
Elano de Paula – A Domus financiou o setor de habitação num valor de aproximadamente R$ 500 bilhões. Hoje ela não tem mais mutuários, a não ser os das unidades que estão sendo construídas agora por ela.

OP – Voltando para esse problema da crise, o senhor acha que ela termina rápido?
Elano de Paula – Acho que sim, porque todos os países do mundo estão agindo. Não tivemos quase nada além do estouro da boiada. As medidas chegaram a tempo e em todo o mundo. Acho que vai terminar tudo bem.

OP – O mundo não ficará mais pobre?
Elano de Paula – Claro. A impressão que eu tenho é que todo mundo vai parar num PIB inferior. E você sabe, todos nós sabemos que qualquer medida econômica tem implicações e é díficil de se controlar. Então, vamos subir os juros para controlar a inflação mas, se eu subo os juros, eu estimulo a aplicação financeira e desestimulo a aplicação imobiliária. Eu faço o dinheiro sumir para o consumo.

OP – Mas isso vai ajudar a controlar a inflação?
Elano de Paula – Essa é uma inocência do Brasil, que nos últimos anos não teve inflação. O que está havendo é outra coisa. Se você analisar, só subiu produto de ultra-necessidade. O Lula soltou R$ 40 ou R$ 50 bilhões de esmola e está botando para comer quem não comia ou quem comia menos. Então sobe o arroz, sobe o feijão, mas não sobe produto da mesa lá de cima. Não é inflação, nunca foi.

OP – E é o quê?
Elano de Paula – É inflação de demanda provocada pela distribuição de recursos.

OP – Então nós estamos pagando um preço do aumento…
Elano de Paula – Nós estamos pagando o preço da esmola. Se eu boto R$ 40 bilhões no mercado, se isso é dividido entre todas as classes indistintamente e se alguns desses recursos vão para até para o Exterior, isso é uma coisa. Se eu faço o inverso, provoco uma inflação discreta em toda a área do comércio. Agora, se eu dou especificamente para quem só come banana, a banana vai atingir um preço tão elevado que você pára de comer banana. R$ 40 bilhões de gente comendo banana não brinca em serviço. É exatamente o que está acontecendo. Então, não adianta querer baixar a inflação. O Brasil não tem inflação. O Brasil tem é um reflexo desse movimento.

OP – Como o senhor acha que o Brasil vai sair dessa crise?
Elano de Paula – O Brasil vai ser o País que vai se sair melhor. O primeiro a botar a cabeça do lado de fora.

OP – Por que o senhor acha que o Brasil tem tantas possibilidades?
Elano de Paula – Por uma razão muito simples: o Brasil é o mais importante produtor de energia do mundo. O Brasil tem reservas. O País sabe o que é inflação. Quem tem mais de 30 anos de idade tem noção do que é inflação. O Brasil tem uma série de qualidades. Eu tenho impressão que vai dar tudo certo. E as medidas quem estão sendo tomadas estão corretas. Podemos até admitir que ele não se saia tão bem bem assim, mas sairá melhor que a grande maioria dos países

OP – Como o senhor avalia medidas tomadas como a criação da Caixa-Par?
Elano de Paula – Eu sou contra a Caixa ou o Banco do Brasil comprarem empresas. Essa é uma forma de estatização. Mas eu não sou contra ajudar as empresas por um determinado período, por um determinado tempo. Eu não sou contra o auxílio. Sou contra a compra.

PERFIL

Elano de Paula nasceu em Maranguape, mas passou boa parte de sua vida dividido entre o Rio de Janeiro e o Ceará. Fez parte do Exército entre 1943 e 45, no fim da Segunda Guerra. Depois ingressou na Rádio Guanabara no Rio de Janeiro, passou pela Rádio Mayrink Veiga e pela Rádio Clube do Brasil. Se formou em engenharia civil pela Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro. Um dos seus primeiros trabalhos como engenheiro fez a construção da ponte de Aquiraz; também fez a construção dos conjuntos Luciano Carneiro e José Walter e entre os seus muitos trabalhos foi diretor da Indústria e Comércio Incosa.

Na área artística, passou pela Televisão Excelsior no Rio de Janeiro, onde foi diretor. Produziu o programa “O Homem e o Riso!”, da TV Record em São Paulo, e o Chico Anysio Show, na TV RIO.

Foi sócio gerente da Master Engenharia, presidente da Credimus – Cia de Crédito Imobiliário, presidente da Iplac do Brasil, em João Pessoa, e vice-presidente da Indústria Plástica Cearense S/A. Foi ainda diretor da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), conselheiro do Instituto Técnico de Crédito Imobiliário e Poupança e diretor da Domus, membro do conselho Curador e diretor do Fundo de Promoção da Poupança – BNH. Hoje é sócio gerente da Quality Artes Ltda, no Rio de Janeiro, presidente da Domus e sócio da Cedro Factoring no Ceará.

Livros

1997 – AQUELE PONTO – Editora Revan – Esotérico
1999 – A ÚLTIMA TESTEMUNHA – Univ.do Ceará – Romance
2000 – COMEÇAR DE NOVO – Universidade do Ceará – Romance
2001 – DE CARONA NO TEMPO – Universidade do Ceará – Crônicas e Contos
2002 – TANGUEIRAS – Universidade do Ceará – Romance

Canção de amor
Saudade, torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que eu não sei de
onde vem
Deixaste o meu coração vazio
Deixaste a saudade
Ao desprezares aquela amizade
Que nasceu ao chamar-te
meu bem

Nas cinzas do meu sonho
Um hino então componho
Sofrendo a desilusão
Que me invade
Canção de amor, saudade

Elano de Paula e Chocolate

E-Mais

“Canção de Amor” ainda rende dividendos para os seus compositores. Elano de Paula diz que com a veiculação da música na minissérie JK ainda recebeu, junto com a família de Chocolate, pagamento pelos direitos autorais.

Elano de Paula compôs na década de 50 a música “Canção de Amor”, em co-autoria com Chocolate, que foi um grande su cesso na voz de Elizeth Cardoso. “Canção de Amor”, fez parte da trilha da minissérie JK, da Rede Globo.

Um das primeiras obras de Elano de Paula na área de construção civil no Ceará foi a ponte do Aquiraz. Ele disse que só ficou sabendo do suicídio de Getúlio Vargas dois dias depois, porque estava no meio da estrada envolvido com a obra.

Apaixonado por cavalos, Elano de Paula participou de vários torneios de hipismo. No Exército, chegou a treinar o cavalo Danúbio, que se apresentava nos desfiles de Sete de Setembro. O cavalo pertencia a um dos comandantes do Exército da época. Depois de velho, o cavalo foi mandado para o interior do Rio Grande do Sul, onde eram deixados os cavalos do Exército quando estavam velhos.

Elano conta que um dos momentos mais emocionantes foi o reencontro com o cavalo e o comandante, anos depois em Bagé. Ele diz que em visita ao Rio Grande do Sul, por acaso, reencontrou o comandante que era dono do cavalo. Eles resolveram seguir numa viagem ao interior e, na cidade de Bagé, viu Danúbio puxando uma carroça. O comandante não acreditou que era o cavalo, mas Elano bateu a mão na pata do cavalo e ele se ajoelhou da mesma forma que era feito nos desfiles de Sete de Setembro no Rio de Janeiro. Eles não agüentaram a emoção e choraram.

opovo online/noticias/paginas azuis – 16 11 2008

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