Samara Felippo, branca e lisa, faz sucesso nas redes sociais com seus posts de cabelos cacheados. Isso porque suas duas filhas, Lara, de 4 e Alícia, de 8, fruto do relacionamento com o jogador de basquete Leandrinho Barbosa, têm os fios encaracolados e passaram por um processo de aceitação. E a mãe teve (e tem!) um papel fundamental na construção da autoestima delas. Mas como tudo isso começou?
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“Quando a Alícia tinha 4 anos, uma amiga da escola disse que o cabelo dela era ruim. Aquilo mexeu bastante comigo porque sei que crianças reproduzem o que veem em casa e na televisão”, conta. “Aos 7 anos, ela veio me questionar de não ter nenhuma amiga cacheada próxima a ela na sala. Nesse dia, Alícia disse que queria ter cabelo liso. Foi quando eu percebi que precisava fazer alguma coisa. Ela não vê meninas cacheadas nos desenhos, livros e televisão.” Samara chamou um amigo cabeleireiro para cortar os fios da filha e fez um vídeo, que viralizou na internet. Então, ela resolveu falar mais do assunto.
“Essa falta de representatividade tem origem no racismo. As redes sociais deram mais visibilidade aos negros. Eles estão podendo falar e o que nós devemos fazer é nos calar e ouvir. Temos que excluir esse padrão de beleza branco”, diz.
“Somos um país de maioria negra e beleza miscigenada. Isso é lindo. Essa geração que está se sobressaindo e usando a moda como resistência precisa aparecer cada vez mais. Acho incrível ver as negras e cacheadas bombando na mídia. Para as minhas filhas e todas as jovens, isso tudo é um estímulo de aceitação.”
Depois de estudar bastante e ler sobre o assunto, Samara se tornou uma superincentivadora das cacheadas. Seus posts com fotos, dicas de como cuidar e mensagens de empoderamento capilar chegam a atingir 20 mil curtidas. O vídeo de Alícia cortando o cabelo contabiliza 335.314 mil visualizações!
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“Precisamos ensinar nossas filhas que cuidar do cabelo é uma forma de diversão. Eu preciso dizer que é fácil, mas não é”, diz. “Pesquiso, vou atrás de produtos, penteados, maneiras de arrumar. Aprender a cuidar dos fios é se amar diariamente. É isso que eu quero ensinar. Já não há representatividade, se elas acharem que tratar dos cabelos é difícil, vão querer alisar mesmo.”
Mas nem tudo foi tão simples como parece. Samara tem cabelos lisos e precisou entender muita coisa para passar essa mensagem às filhas. “Reconheço o meu privilégio branco. Mas ter filhas negras e cacheadas me fez enxergar além. Há um grupo de mulheres negras que me criticam por falar disso, mas eu não quero tomar a luta de ninguém, respeito muito o lugar de fala de cada uma“, conta. “Eu quero lutar junto com elas, quero ajudar. Tenho uma voz na mídia e quero usar isso para contribuir no que puder.”
A atriz também é superfeminista e faz de tudo para criar as filhas com todas as premissas da luta pela igualdade de gênero. “A partir do momento que eu me enxerguei feminista, não incitando a rivalidade entre mulheres, dando as mãos às outras, e não julgando (somos ensinadas a fazer isso), passei a me cobrar menos em relação ao meu corpo”, conta.
Samara explica que já foi escrava desse padrão, tomando remédios para emagrecer e fazendo todas as dietas que existem. “Hoje me encontro em um momento fitness, mas é uma questão de saúde, de bem-estar. O feminismo me empoderou de verdade.” Citando a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, a qual tem lido bastante, Samara termina a entrevista deixando um recado: “Para educar crianças feministas.”
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