E-mails obtidos após a busca e apreensão na casa do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzmann, e que culminaram na sua prisão nesta quinta-feira (5) mostram cobranças para que ele realizasse transferências bancárias. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), os pagamentos não só seriam propinas para comprar votos individuais na escolha da Rio-2016, mas também comprovariam a compra em bloco de votos de membros africanos do COI.
A última parcela da propina, conforme apontam e-mails obtidos pelo MPF, foi paga com atraso. Em um deles, Leonardo Gryner, também preso nesta quinta apontado como braço-direito de Nuzmann, pede desculpas pela demora no pagamento, dias após a eleição do Rio como sede.
Os dois são acusados de atuar diretamente em uma negociação espúria com membros do COI para que o Rio sediasse o evento. Eles também receberam um email de Papa Diack, que comprovaria a compra em bloco de votos de vários países africanos, segundo o MPF. Diack é filho de um membro do COI que participou da votação.
Na mensagem, Diack diz estar envergonhado com o presidente (Nuzmann) porque “nossos amigos não confiam mais em nós”. “Amigos”, diz o MPF, seriam os outros eleitores africanos.
“Faz, portanto, clara referência aos acertos realizados entre Nuzmann e Gryner e africanos que votaram para a escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em Copenhague (…) A referência a “our friends” (nossos amigos) está a indicar a votação em bloco na cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, por parte dos africanos”, afirma o MPF. A cidade dinamarquesa foi o palco da votação da eleição.
O Ministério Público Federal já supunha que US$ 2 milhões tinham sido pagos a Diack e poderiam significar a compra de votos não só de um dos países africanos, mas de quase todo o continente. Com o avanço das investigações, afirma agora que o pagamento foi maior do que isso e que também serviu a mais membros do COI.
Os US$ 2 milhões foram pagos, diz o Ministério Público Federal, pelo empresário Arthur Soares, próximo ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e a mando dele. Nuzman e Gryner seriam os operadores do esquema de compra de votos. Os três chegaram a visitar vários memboros do COI, como admitiu Cabral em depoimento.
Gryner pede desculpa por atraso na propina
Na mensagem destinada a Diack, Leonardo Gryner diz que, “antes de tudo, quer pedir desculpas pelo atraso em completar a última parte do acordo”. Diz também que está trabalhando diariamente para finalizar a operação.
“Queremos pedir desculpas pelo inconveniente que podemos ter causado a você”, escreve ele. A mensagem é do dia 26 de novembro. Mais de um mês após a escolha da sede, que ocorreu em 2 de outubro.