Dois dias após o referendo independentista na Catalunha, o Rei Filipe VI criticou a conduta dos líderes catalães, dizendo que eles violaram as leis do Estado espanhol e demonstraram uma “deslealdade inadmissível”.
“Com as suas decisões, violaram de forma sistemática as normas aprovadas legal e legitimamente, demonstrando uma deslealdade inadmissível em relação aos poderes do Estado”, disse Filipe VI, em pronunciamento transmitido pela televisão.
“Diante desta situação de extrema gravidade, é responsabilidade dos legítimos poderes do Estado assegurar a ordem constitucional e o normal funcionamento das instituições”, afirmou.
Enquanto isso, a rede britânica BBC informou que, em entrevista, o presidente da Generalidade da Catalunha, Carles Puigdemont, disse que sua região pode declarar independência em questão de dias. Ele afirmou que seu governo irá “agir no final desta semana ou no início da próxima”.
Quando perguntado o que faria se o governo espanhol interviesse e assumisse o controle do governo catalão, Puigdemont disse que seria “um erro que muda tudo”.
Greve
Na Catalunha, uma greve foi convocada para esta terça-feira por grupos pró-independência contra a repressão e afetou os setores de transporte público e serviços básicos na região.
Cerca de 700 mil pessoas protestaram em Barcelona, capital da região autônoma. Os manifestantes se mobilizaram em diferentes atos por toda a cidade, com gritos de “fora as forças de ocupação” em referência aos agentes da Guarda Civil e a Polícia Nacional enviados pelo governo central para impedir o referendo.
Manifestante exibe bandeira separatista da Catalunha durante manifestação desta terça-feira (3) em Barcelona (Foto: AP Photo/Francisco Seco)
Crise
A Espanha vive uma de suas piores crises políticas dos últimos 40 anos, desde que o executivo separatista catalão decidiu organizar este referendo de autodeterminação apesar de sua proibição.
O governo espanhol considera o referendo ilegal, alegando que a Constituição declara que o país é indivisível, e diz que ele não irá ocorrer.
Polícia nacional espanhola entra em confronto com apoiadores do referendo sobre a independência da Catalunha em Barcelona (Foto: Manu Fernandez/AP)
Os dirigentes catalães garantem que venceram o referendo com 90% dos votos – 2,02 milhões de apoios sobre um censo de 5,3 milhões de eleitores – e agora querem declarar a independência de maneira unilateral.
Centenas de policiais intervieram no domingo em centros de votação, utilizando cassetetes para dispersar os militantes concentrados na frente desses espaços para protegê-los e conseguir realizar a votação. Mais de 800 pessoas ficaram feridas.
Nesta segunda, Puigdemont afirmou que a Catalunha vai criar uma comissão especial para investigar as alegações de abuso pela polícia espanhola. As cenas de violência causadas por táticas violentas por parte das forças de segurança receberam condenação internacional e também despertaram a atenção da Organização das Nações Unidas.
G1