Por G1 CE
“Quando retirei a pele de tilápia, a queimadura já estava praticamente sarada e só precisei usar uma pomada para concluir o processo de cicatrização. Hoje, a cicatriz está bem clarinha e uso apenas um protetor solar e um creme hidratante.” O relato é da microempresária Aline Joca, que fez uso da pele de tilápia por apenas seis dias, após ter parte da barriga queimada com água quente.
Em um tratamento convencional, o tempo de cicatrização seria três vezes maior, com trocas diárias de curativos, o que proporciona dor e utilização de remédios para evitar contaminação. “A pele da tilápia tem três fatores importantes no processo de cicatrização de uma ferida: a grande quantidade de colágeno tipo 1, que é uma proteína importante na cicatrização; a distensibilidade, pois ela é muito elástica; e o grau de umidade”, explica o médico Edmar Maciel, coordenador da pesquisa.
Segundo ele, a pele da tilápia é um curativo biológico temporário que fecha a ferida “evitando a contaminação de fora para dentro, a desidratação e as trocas diárias de curativos”.
Diversificação das áreas
Mas não é só no tratamento de queimaduras que a pele pode ser utilizada. “A pesquisa agora vai se concentrar também em outras áreas, como a urologia, a odontologia, a otorrinolaringologia, e a área de feridas nos pés diabéticos, nas úlceras varicosas e na ginecologia, como foi feito pelo grupo da Maternidade-Escola [Assis Chateaubriand], na reconstrução de vagina – com sucesso – em duas pacientes’, explica.
Nesta quinta-feira (13), a Universidade Federal do Ceará inaugura em Fortaleza o primeiro banco de pele de tilápia do país. Iniciada em 2015, a pesquisa do curativo com base em animais aquáticos é inédito no mundo, segundo os pesquisadores.
Apesar da criação do banco, o material ainda é exclusivo para a pesquisa científica. “Essa produção daqui é exclusivamente para a pesquisa. Mil lotes – que estão prontos no banco – é uma quantidade muito pequena e a produção industrial é gigantesca, para que possa atender à demanda”, explica Edmar Maciel.
Antes da produção em larga escala, é necessário passar por todos os protocolos exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. “Essa etapa de processamento é para a gente concluir a pesquisa e poder registrar na Anvisa. Essa pele também será fornecida a outros estados a partir do próximo semestre para que possam participar de estudos multicentros”. Nesta etapa, serão integrados ao estudo pesquisadores do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Goiás.
Banco de Pele
O banco será coordenado pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ). O banco de pele ficará na sede do NPDM, na Rua Coronel Nunes de Melo, no Bairro Rodolfo Teófilo.
O professor Odorico de Moraes, coordenador do NPDM, será responsável pela direção do banco, que terá ainda a coordenação médica de Edmar Maciel, presidente do IAQ, e coordenação de enfermagem de Cybele Leontsinis, do Centro de Tratamento de Queimados do Instituto Dr. José Frota (IJF).