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Nº de habitantes por médico no Norte é quase 3 vezes o do Sudeste; veja o raio-x da carreira

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Por Ana Carolina Moreno, G1

Quem pensa em fazer o vestibular com interesse em seguir a carreira de medicina vai se deparar com o seguinte cenário: um país com um número crescente de médicos, mas uma distribuição ainda desigual entre as regiões. Atualmente, o Brasil tem mais de 440 mil médicos em atividade e uma população estimada em 207 milhões de pessoas, segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) e projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para julho de 2017. Isso representa uma média nacional de 470 habitantes por médico registrado.

Mas a situação varia de estado para estado. Enquanto no Distrito Federal essa média é de 254 habitantes por médico, no Maranhão ela sobe para 1.382. Considerando as regiões brasileiras, o Sudeste é onde há uma concentração maior de médicos em relação à população local. São 353 habitantes por médico. Já a Região Norte apresenta o pior índice: 953 habitantes por médico (veja mais no mapa abaixo, elaborado pelo G1 com base nos números do CFM e do IBGE):

Confira a quantidade de habitantes por médico em cada estado brasileiro. Os dados dos médicos se referem às inscrições principais de cada profissional no Conselho Federal de Medicina. Segundo o CFM, é possível que um médico esteja registrado em mais de um estado (com uma inscrição secundária, desconsiderada na conta acima) (Foto: Editoria de Arte/G1) Confira a quantidade de habitantes por médico em cada estado brasileiro. Os dados dos médicos se referem às inscrições principais de cada profissional no Conselho Federal de Medicina. Segundo o CFM, é possível que um médico esteja registrado em mais de um estado (com uma inscrição secundária, desconsiderada na conta acima) (Foto: Editoria de Arte/G1)

Confira a quantidade de habitantes por médico em cada estado brasileiro. Os dados dos médicos se referem às inscrições principais de cada profissional no Conselho Federal de Medicina. Segundo o CFM, é possível que um médico esteja registrado em mais de um estado (com uma inscrição secundária, desconsiderada na conta acima) (Foto: Editoria de Arte/G1)

Marcus Villander, de 28 anos, é formado em medicina pela Universidade de Pernambuco (UPE) e tem residência em clínica médica. Atualmente, ele trabalha em dois hospitais no Recife – um público e um privado –, e explica que, no Brasil, os médicos estão mal distribuídos. “Há uma superlotação de médicos nas capitais e pouco povoamento de médicos nos interiores”, explicou ele, afirmando que, entre os formandos mais recentes, é cada vez mais difícil encontrar emprego na área nas capitais.

“Porque os salários não são atrativos e a estrutura não é atrativa”, afirmou Villander, que também é vice-presidente da Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR). De acordo com o clínico, nas cidades interioranas há poucas opções de educação e lazer, o que acaba afugentando os médicos e suas famílias.

Além disso, ele explica que os contratos de trabalho são precários e raramente há plano de carreira. Essa situação também começa a se reproduzir cada vez mais nos grandes centros, de acordo com ele. Villander explica que mantém três contratos com os dois hospitais onde trabalha: durante a semana, ele passa as manhãs em um hospital e as tardes em outros. Mas, às quartas e sábados, dá plantão em um dos hospitais, em um contrato separado. Já aos domingos ele precisa fazer visitas aos pacientes internados.

Mais médicas mulheres

Segundo dados da pesquisa Demografia Médica no Brasil, publicada pelo CFM em 2015, o Brasil viu seu número de médicos crescer quase oito vezes desde a década de 1970. Só entre 2000 e 2014, o crescimento no número de registros médicos (o resultado do número de novos médicos menos o número de médicos que deixaram de ter registros ativos) foi de em média 10 mil por ano.

Neste período, uma tendência na carreira de medicina apontada pelos dados foi o aumento gradual da participação das mulheres.

Considerando o número de médicos em 2015, nota-se que, enquanto entre os médicos mais velhos (com mais de 60 anos) as mulheres só representam um quarto do total, entre os profissionais de medicina mais jovens (com menos de 40 anos), as mulheres já representam a maioria (compare no gráfico abaixo):

Igualdade de gênero na carreira médica
Mulheres são grande minoria entre os médicos com mais de 60 anos, mas já são maioria entre a geração mais jovem
Nº de profissionais (por sexo e faixa etária)81.54081.54079.64479.64420.32920.32964.96764.967MÉDICAS (até 40 anos)MÉDICOS (até 40 anos)MÉDICAS (mais de 60 anos)MÉDICOS (mais de 60 anos)0100k25k50k75k
Fonte: Demografia Médica no Brasil 2015 (CFM)

Mais vagas em medicina

O estudo diz ainda que o Brasil contava com 257 escolas médicas em 2015, sendo que 69 delas (ou 27% do total) foram criadas depois de 2010. Este crescimento é um resultado do programa Mais Médicos, que, segundo o governo federal, criou 5.300 vagas de medicina, a maior parte em instituições privadas (veja abaixo):

Novas vagas de graduação em medicina
Desde 2013, o Mais Médicos criou 5.306 vagas em cursos de medicina, sendo 68% delas em faculdades particulares
Vagas em universidades públicas: 1.690Vagas em instituições privadas: 3.616

Vagas em instituições privadas
3.616
Fonte: Programa Mais Médicos

Residências mais concorridas

A expansão das vagas em medicina, principalmente a partir de 2013, foi uma resposta do governo federal à falta de médicos para suprir a demanda da população brasileira. Um dos efeitos que esse aumento deve provocar, segundo a Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR), é uma maior concorrência para as vagas oferecidas na residência. Enquanto o número de formados todos os anos aumenta, o de vagas em residências médicas se mantém em entre 15 mil e 20 mil todos os anos.

As residências médicas são um tipo de especialização, ou seja, dão ao formado o diploma de pós-graduação lato sensu. Porém, elas funcionam em um regime especial: todos os programas de residência médica no país são regulamentados da mesma forma, e todos os residentes recebem a mesma bolsa pela carga horária de 60 horas semanais.

Depois da formatura em medicina, os médicos já podem exercer a profissão, mas precisam passar por pelo menos dois anos de residência médica para se especializarem (Foto: Divulgação/UFC/Ribamar Neto) Depois da formatura em medicina, os médicos já podem exercer a profissão, mas precisam passar por pelo menos dois anos de residência médica para se especializarem (Foto: Divulgação/UFC/Ribamar Neto)

Depois da formatura em medicina, os médicos já podem exercer a profissão, mas precisam passar por pelo menos dois anos de residência médica para se especializarem (Foto: Divulgação/UFC/Ribamar Neto)

O valor da bolsa foi reajustado pela última vez no início de 2016. O aumento foi de 11%, para R$ 3.300, mas só foi obtido depois de 21 dias de greve nacional dos residentes, segundo explicou ao G1 Marcus Villander, vice-presidente da ANMR.

“Veja a dimensão da coisa: você é um médico, formado depois de seis anos de faculdade, a faculdade mais longa do país. E depois disso você vai ter que trabalhar 60 horas semanais para ganhar R$ 3.300.”
(Marcus Villander, vice-presidente da ANMR)

Atualmente, Villander explica que há 56 programas diferentes de residência médica, que vão desde as áreas mais clássicas, como cardiologia, oftalmologia e neurocirurgia, a outras mais recentes, como acupuntura e homeopatia. Porém, nem todas permitem o acesso direto: em alguns casos, o médico precisa primeiro fazer uma residência em uma das áreas principais, como clínica geral e cirurgia geral.

Veja abaixo a lista atual de programas de residência médica, segundo documentos da Comissão Nacional de Residência Médica, ligada ao Ministério da Educação:

  • Residências médicas com acesso direto: acupuntura, anestesiologia, cirurgia geral, cirurgia da mão, clínica médica, dermatologia, genética médica, homeopatia, infectologia, medicina de família e comunidade, medicina do tráfego, medicina do trabalho, medicina esportiva, medicina física e reabilitação, medicina legal, medicina nuclear, medicina preventiva e social, neurocirurgia, neurologia, obstetrícia e ginecologia, oftalmologia, ortopedia e traumatologia, otorrinolaringologia, patologia, patologia clínica/medicina laboratorial, pediatria, psiquiatria, radiologia e diagnóstico por imagem, radioterapia.
  • Residências médicas que exigem uma residência prévia: alergia e imunologia, angiologia, cancerologia/clínica, cardiologia, endocrinologia, endoscopia, gastroenterologia, geriatria, hematologia e hemoterapia, nefrologia, pneumologia, reumatologia, cirurgia geral – programa avançado, cancerologia/cirúrgica, cirurgia cardiovascular, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia do aparelho digestivo, cirurgia pediátrica, cirurgia plástica, cirurgia torácica, cirurgia vascular, coloproctologia, urologia, mastologia, medicina intensiva, cancerologia/pediátrica, nutrologia.

“Em anestesia, oftalmologia, otorrinolaringologia, psiquiatria, dermatologia, que são sempre muito concorridas, em geral você leva dois ou três anos para conseguir entrar”, explicou Villander. De acordo com ele, são as áreas que oferecem “trabalhos com baixas taxas de perda de paciente, pacientes ambulatoriais, que não são doentes críticos, e oferecem uma qualidade de trabalho e de vida pro médico que são mais atrativas”. Entre essas condições estão locais de trabalho menos insalubres e menor exigência de equipamentos tecnológicos, além de serem especialidades de acesso direto.

Veja o raio-x da carreira de medicina (Foto: Editoria de Arte/G1) Veja o raio-x da carreira de medicina (Foto: Editoria de Arte/G1)

Veja o raio-x da carreira de medicina (Foto: Editoria de Arte/G1)

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