Candance diz que não tem medo. Inquietação, sim, mas não medo. “Não podemos ficar em casa, assustados. É o que os terroristas querem, e não podemos permitir isso”, comenta esta jovem mãe que foi com a filha Ella, de 11 anos, ao show que a ídolo pop Ariana Grande apresenta neste domingo em Manchester com outras grandes estrelas em homenagem às vítimas do atentado terrorista de 22 de maio, quando um jihadista se explodiu na saída do espetáculo da artista na Manchester Arena, tirando a vida de 22 pessoas.
Além disso, neste domingo os espectadores do One Love Manchester também lembram os sete mortos e as dezenas de feridos do atentado deste sábado em Londres. Um novo golpe para o Reino Unido, que em três meses sofreu três ataques terroristas. Os dois anteriores foram assumidos pelo Estado Islâmico. O deste sábado ainda não foi reivindicado por nenhum grupo de linha islamista.
Mas britânicos como Candace e Ella, ou como Holly, Lotte e Molly, de 15 anos, que comparecem emocionadas com suas mães para ver Ariana Grande, não querem perder o uso dos espaços públicos, apesar do medo e da ameaça. “Meus pais estavam preocupados, mas no final decidimos que tínhamos de vir”, conta uma das meninas, vestida, como suas amigas, com uma camiseta rosa e o cabelo com um penteado de dois coques. As três estiveram no show do dia 22 e por isso puderam entrar de graça neste domingo.
“Todos somos Manchester e todos somos Londres”, canta um grupo de garotas na fila para entrar no estádio de Crickett Old Trafford, junto ao campo da equipe de futebol Manchester United, no qual mais de 130.000 pessoas — segundo divulgado pelas autoridades — escutaram Ariana Grande e outros artistas, como Katy Perry, Coldplay, Justin Bieber, Robbie Williams, Pharrell Williams, Miley Cyrus, Take That, Usher, Black Eyed Peas, Little Mix e Niall Horan, da boy band One Direction, que Olivia aguardava com ansiedade. Chegou ao show acompanhada de sua amiga Emily. Ambas as jovens, de 19 anos, estiveram na Manchester Arena e contam que sentiram muito medo porque não conseguiam encontrar seus pais, que tinham ficado de buscá-las no retorno para casa.
Junto a elas, um grupo de policiais observa dezenas de garotos e garotas tirarem selfies nos cartazes que a organização colocou na entrada, uma espécie de photocall que é a atração da tarde. A chuva que caía até duas horas antes em Manchester deu lugar ao sol. As autoridades reforçaram ao extremo as medidas de segurança e tanto a região de Old Trafford como o centro da cidade estão cheias de policiais e pessoal de apoio.
Joseph Harris não esteve no show anterior de Ariana Grande, mas decidiu ir a este com a filha de nove anos. “Ela estava tão animada que não pude dizer não. Quando soubemos, nos mobilizamos para conseguir entradas”, conta ao lado da menina, que não consegue parar de se mexer, nervosa. Harris e a filha conseguiram um dos 35.000 ingressos postos à venda pelo equivalente a 165 reais. Esgotaram-se em questão de minutos.
A arrecadação do show — os organizadores esperam o equivalente a mais de 8 milhões de reais — será doada a um fundo criado para ajudar as vítimas do atentado de maio, que abalou o Reino Unido. Não só se trata do maior atentado dos últimos anos no país, mas também se voltou contra um público especialmente jovem, que tinha ido desfrutar o que pensavam seria uma das noites mais bonitas, o show de um dos ícones pop que tem milhões de seguidores em todo o mundo. No ataque morreram várias crianças — a mais jovem, de apenas oito anos.
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