O Papa Francisco enviou uma mensagem de gratidão e encorajamento à Família Vicentina, nesta quarta-feira (27/09), por ocasião do quarto centenário do carisma que deu origem aos institutos e associações que a compõem.
Em agosto de 1617, São Vicente de Paulo fundou as Damas da Caridade, hoje conhecidas como Associação Internacional de Caridade. Ele “viveu sempre a caminho, aberto para a busca de Deus e de si. Num encontro forte com Jesus, nas pessoas dos pobres, sentiu o chamamento a não viver mais para si mesmo, mas a servi-Lo sem reservas nos pobres”.
São Vicente de Paulo “fundou as Caridades para que cuidassem dos mais pobres, vivendo em comunhão. Um grão de mostarda, semeado em 1617, que se tornou, ao longo do tempo, uma árvore grande”, escreve o Papa.
“No coração da Família Vicentina está a busca pelos pobres e abandonados”, destaca Francisco, recomendando aos seus membros a “olharem sempre para a rocha que deu origem a tudo”, a fim de continuar a levar, hoje, às periferias da condição humana, o mesmo frescor das origens.
“Esta rocha é Jesus pobre que pede para ser reconhecido em quem é pobre e sem voz. Uma rocha à qual todos somos chamados a sorver para matar a sede do mundo com a caridade que brota d’Ele. A caridade está no coração da Igreja. É o motivo do seu agir, a alma da sua missão.”
São Vicente de Paulo continua a falar à Igreja. “O seu testemunho nos convida a estar sempre a caminho, nos pede a pequenez do coração, plena disponibilidade e humildade, nos impele à comunhão fraterna entre nós e à missão corajosa no mundo. O seu testemunho nos pede para nos libertar de linguagens complexas, de retóricas auto-referenciais e do apego às seguranças materiais que podem dar uma tranquilidade imediata, mas não infundem a paz de Deus e muitas vezes criam obstáculo para a missão” – lê-se ainda na mensagem.
O testemunho deste santo, “nos exorta a investir na criatividade do amor, com «um coração que vê»”, ressalta Francisco citando um trecho da Encíclica ‘Deus Caritas est’ do Papa emérito Bento XVI.
“A caridade não se contenta de bons hábitos do passado, mas sabe transformar o presente. Isso é muito necessário hoje, na complexidade mutável da sociedade globalizada, onde certas formas de esmolas e ajuda, não obstante motivadas por intenções generosas, correm o risco de alimentar formas de exploração e ilegalidade, e não trazer benefícios reais e duradouros”, frisa ainda o Papa.
Que o exemplo de São Vicente de Paulo nos estimule “a dar espaço e tempo aos pobres, aos novos pobres de hoje e aos muitos pobres de hoje, a fazer nossos os seus pensamentos e seus desconfortos, pois um cristianismo sem contacto com quem sofre torna-se um cristianismo desencarnado, incapaz de tocar a carne de Cristo. Portanto, encontrar os pobres, dar preferência e voz aos pobres para que a sua presença não seja silenciada pela cultura do efémero”.
O Papa conclui a mensagem, desejando que o II Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado, aos 19 de novembro próximo, ajude a Igreja na “vocação de seguir Jesus pobre”, tornando-se “cada vez mais e melhor um sinal concreto da caridade de Cristo para os últimos e necessitados”, e reagindo contra a “cultura do descarte e do desperdício”. (BS/MJ)