A cerimônia está marcada para as 17 horas de sábado, no Centro de Eventos do Ceará
A Coordenadoria de Comunicação do Governo do Ceará publica, desta quinta-feira (23) até o próximo sábado (25), os perfis dos seis agraciados com a Medalha da Abolição 2016/2017. A cerimônia está marcada para as 17 horas de sábado, no Centro de Eventos do Ceará.
A medalha será concedida a Ciro Ferreira Gomes, Napoleão Nunes Maia Filho, Carlos Francisco Ribeiro Jereissati, Luiza de Teodoro Vieira, Valton de Miranda Leitão e Francisco Alemberg de Souza Lima (Alemberg Quindins).
Agora, você conhece um pouco mais das histórias de vida de Ciro Ferreira Gomes e Napoleão Nunes Maia Filho.
Ciro Gomes
Ciro Ferreira Gomes nasceu em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, mas se radicou em Sobral, Ceará, em 1962. É formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará e fez curso de Economia na Harvard Law School.
Foi eleito deputado estadual em 1983, com apenas 25 anos, se reelegendo em 1986. Em 1988, foi eleito prefeito de Fortaleza. Em outubro de 1990, aos 32 anos, Ciro venceu as eleições para o Governo do Ceará, tornando-se o mais jovem governador da história do País. Também foi reconhecido como o Governador mais bem avaliado do Brasil.
A convite do presidente Itamar Franco, Ciro Gomes assumiu o Ministério da Fazenda, com a missão de enfrentar e vencer uma grave crise que ameaçava o então nascente Plano Real. Convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu o Ministério da Integração Nacional em 2003.
Na eleição de outubro de 2006, Ciro Gomes candidatou-se a uma cadeira de deputado federal, sendo o mais votado proporcionalmente de todo o país: ele obteve 667.830 mil votos, o equivalente a 16,19% de toda a votação dos cearenses para a Câmara Federal.
Em 12 de setembro de 2013, a convite do então governador do Ceará, Cid Gomes, assumiu a Secretaria da Saúde com a missão de entregar aos cearenses a melhor rede pública de saúde do país.
Em 2015, assumiu a presidência da Transnordestina Logística S/A.
É autor dos livros “No País dos Conflitos” (1994); “O Próximo Passo – Uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo” (1995), em parceria com o professor Mangabeira Unger; e “Um Desafio Chamado Brasil” (2002).
Disputou a Presidência da República nas eleições de 1998 e 2002.
Entrevista
– Você se elegeu deputado estadual aos 25 anos e aos 32 foi governador. Ter entrado tão cedo na política contribuiu para, hoje, ter essa visão tão ampla do país?
Toda esta minha trajetória de vida na política, tão generosamente concedida pelo povo cearense, me fez conhecer não só a geografia e a política do nosso Brasil, mas também a essência que molda a alma e o caráter do nosso povo. O nosso Ceará e o Brasil são tão maravilhosamente diversos em cultura que sempre me convidou a estudar muito sobre as nossas riquezas e dificuldades. Para conhecer o Brasil é preciso conversar com nossa gente, se doer de suas dores e comemorar junto suas conquistas.
– Como você enxerga atualmente o estado do Ceará no contexto político nacional?
O Ceará é hoje protagonista em diversas áreas e é referência na área mais sensível e importante para o Brasil, que é a educação. O trabalho contínuo, sério e transparente realizado nos últimos anos, faz com que o Estado seja hoje modelo para muitos Estados e gestores de todo o Brasil. O Ceará também é um dos poucos Estados que conta com suas economias saneadas e com uma taxa de investimento acima da média nacional. Isso se dá principalmente pela parceria e apoio da população aos projetos apresentados e em andamento.
– Quais são as principais medidas emergenciais para o nacional desenvolvimentismo?
O Brasil precisa voltar urgentemente a crescer. Isso será possível se conseguirmos unir quem produz e quem trabalha. O projeto nacional desenvolvimentista, entre outras coisas, pretende recuperar a indústria brasileira, investindo principalmente em áreas sensíveis, como, por exemplo, no complexo industrial da saúde e no agronegócio. O Brasil tem hoje a agricultura mais competitiva do planeta, mas importa 40% dos insumos de sua produção. O país também importa 80% dos insumos usados em nossos medicamentos, sendo que boa parte deles já tem patente vencida. Podemos criar centros de pesquisa e tecnologia reversa e garantir através de compra governamental a viabilidade destas indústrias.
Ser agraciado com a Medalha da Abolição é um reconhecimento por todo o trabalho exercido por você ao longo de tantos anos de carreira?
Servir ao Ceará e aos cearenses para mim é o maior prêmio, maior orgulho, homenagem que eu posso imaginar ter em qualquer circunstância. Receber a Medalha da Abolição é quase um exagero, embora isso me desvaneça, me prostre em gratidão, me honra muito por estar na companhia de tanta gente extraordinária. Quero agradecer a todos os cearenses, principalmente os mais pobres, pelo privilégio de servir essa gente tão querida.
– O que o Ceará representa para você?
É a minha terra, é a minha gente. Tudo o que conquistei na vida devo ao carinho e à generosidade de meus irmãos e irmãs cearenses.
Napoleão Nunes Maia Filho
A poesia nunca deixou de acompanhar os passos de Napoleão Nunes Maia Filho. Natural do município de Limoeiro do Norte, o jurista buscou, desde a juventude, refinamento e formação humanística através da leitura. Elevar “as suas percepções de vida”, como costuma definir. E foi seguindo esta trilha que ele alcançou notáveis conquistas na área jurídica – através das carreiras de professor universitário, teórico e juiz -, além da colaboração no campo literário, sendo poeta e membro da Academia Cearense de Letras.
Aos 71 anos, Napoleão é atualmente ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e magistrado com carreira e atuações marcantes no Ceará. Bacharel e mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará, o cearense tem registrado na carreira atuações como procurador do Estado, juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará e juiz do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (sede em Recife).
O produtivo concílio entre as letras e o Poder Judiciário é a marca da personalidade do limoeirense que será um dos seis agraciados com a Medalha da Abolição 2016-2017, condecoração a ser entregue pelo governador Camilo Santana neste sábado, às 17h, no Centro de Eventos, a brasileiros com trabalhos relevantes prestados ao Estado. Em entrevista à reportagem, o ministro do STJ recordou momentos de sua trajetória Ceará afora e comentou sobre o orgulho de receber o reconhecimento do Governo do Ceará.
Entrevista
– De quando vem a ligação do senhor com o Direito, ainda em Limoeiro do Norte?
Desde a minha infância, na casa de meu pai, Napoleão Nunes Maia, onde não era rara a presença de grandes amigos seus, lidadores do Direito na minha Comarca natal, como o juiz Otávio Augusto Acioli Cintra, os promotores de Justiça Antonio Dedeus Almeida e Afonso Tavares Dantas, além dos advogados Raimundo Lucena, Poti Martins, Edgar Carlos de Amorim e Expedito Maia da Costa. As discussões jurídicas eram constantes, animadas e me impressionavam vivamente.
– Como foram os anos de estudo na Universidade Federal do Ceará?
Foram anos inesquecíveis de grande aprendizado intelectual e formação de excelentes amizades que ainda conservo. Tive professores extraordinários: José Amorim Sobreira, com o seu categórico cachimbo, seu bigode retorcido, à maneira dos juristas alemães e o seu jeito de senador romano; Antônio Carlos Costa e Silva, elegante, cordial e atencioso, além de exímio jurista e professor; José Miramar da Ponte, que recordo com grata emoção, por me ter dado a oportunidade de ser seu monitor em Direito Judiciário Civil; Júlio Carlos de Miranda Bezerra, amigo inesquecível; Fávila Ribeiro, polêmico e criativo; Wagner Barreira, o pai, enciclopédico e piadista; Wagner Barreira, o filho, jovem, quase da idade dos alunos, assíduo e zeloso; Willis Santiago Guerra, o pai, colega afetuoso e orientador; Roberto Martins Rodrigues, o mais jovial, o mais espontâneo e bem humorado mestre que tive e recordo, e Paulo Bonavides, modelar, guru, espelho e exemplo, cidadão de destacada honorabilidade e singular probidade, que me dá a honra de ser seu amigo. Poderia citar muitos outros mestres, para evidenciar que tive a boa fortuna de ter professores realmente extraordinários.
– Como o senhor se desenvolveu como professor dentro do ambiente universitário? Quais os principais aprendizados lecionando na UFC e na UFPE?
Tenho a absoluta certeza de que aprendi muito mais com os meus alunos, do que lhes pude ensinar. A minha vida docente foi gratíssima e enriquecedora. Convivi em harmonia e cooperação com colegas, professores e alunos, na Faculdade de Direito do Ceará. Na Faculdade de Direito do Recife, Casa de Tobias Barreto, tornei-me amigo de grandes mestres de lá, como Francisco Queiroz, Ivo Dantas e Macedo Malta. Para mim foi uma honra ser professor na faculdade onde Clóvis Beviláqua foi aluno e secretário, e abrigou ícones como Augusto dos Anjos e ouviu Castro Alves e Nabuco. A Faculdade de Direito do Recife é uma espécie de templo sagrado da brasilidade nordestina.
– O senhor integra a Academia Cearense de Letras, assim como seus irmãos. O que a literatura representa para o senhor, em especial a não jurídica?
A literatura, em todas as suas formas, é a mais refinada expressão espiritual e humanística. É pela literatura que as pessoas elevam as suas percepções da vida, dos homens, das ideias e do mundo, participando de conquistas e seduções universais. Romances, poesias, teatro, música, canto e dança, criações artísticas da mais diversa natureza, são todas elas expressões da alma universal. O meu ingresso na Academia talvez represente a confirmação da regra, segundo a qual, toda regra tem exceção. A Academia me chegou – não sei se eu cheguei à Academia – pelas mãos generosas e honradas do saudoso Arthur Eduardo Benevides, Princípe dos Poetas Cearenses, que viu em mim um mérito que eu mesmo não via. Mas não vou discutir nem contestar o juízo de Arthurzão, que lá de onde está certamente me censura com seu olhar severo e carinhoso, uma espécie de olhar de pai. Meus irmãos Luciano Maia e Virgílio Maia, estes sim, são acadêmicos qualificados pela sutileza de suas produções literárias, sobretudo poéticas, que lhes conferiram, merecidamente a aura de imortalidade que os orna.
– O senhor acumulou muitos cargos no Ceará. A migração para as instâncias nacionais sempre foi um objetivo?
Não. A ambição da minha vida era ser Juiz na Comarca de Limoeiro do Norte onde nasci, que era o grande plano do meu pai, e depois de ter malogrado o sonho de minha mãe, que era o de eu ser padre. Ser juiz federal e desembargador no TRF da 5a. Região, em Recife, bem como ser ministro do STJ e do TSE, nunca esteve entre os meus objetivos intelectuais e profissionais, mesmo quando deixava que a imaginação exaltada me assaltasse. Eu penso que isso é coisa do destino, não é algo que se persiga como se fosse acessível simplesmente pelo esforço pessoal, ainda que obstinado e persistente. Acho que foi a mão do Altíssimo que me conduziu a essas funções e por isso tenho a convicção que devo aos desafortunados as atenções maiores que possa dispensar, porque eles são os filhos prediletos de Deus. É nisso que acredito.
– Qual a sensação de ser agraciado com a Medalha da Abolição?
A primeira sensação que tive quando o ilustre governador Camilo Santana me comunicou a sua escolha para receber a Medalha da Abolição, foi a de surpresa e cheguei a dizer ao governador que talvez ele estivesse enganado. Ele riu da minha reação e disse, com a fidalga educação de sua herança avoenga, que não havia engano algum e que eu merecia a comenda. Isso não diminuiu a minha surpresa, mas aguçou o meu orgulho, digo-o com franqueza, e também a minha vaidade, digo-o com sinceridade, por ser contemplado para receber esta engrandecedora homenagem do Governo e do povo do Ceará. Esta comenda que recorda e celebra a pioneira epopeia cearense de máxima promoção social, que foi a libertação dos escravos de nossa terra, antes, muito antes, da Lei Áurea, de 1888. Estou justamente feliz por passar a integrar uma galeria de excelências e, mais uma vez, digo ser uma exceção nessa constelação de pessoas ilustres. E devo isto ao nosso jovem e querido governador Camilo Santana, que, nas suas avaliações seguiu insondáveis critérios de distinção. Talvez isso também seja coisa do destino. Peço a Deus que abençoe o nosso governador, aplaine os seus caminhos e lhe ilumine os passos.
23.03.2017
Thiago Sampaio e André Victor Rodrigues
Repórteres / Célula de Reportagem
Foto Ciro Gomes: arquivo pessoal
Foto Napoleão Nunes: divulgação STJ