Um relatório da Organização Transparência Internacional concluiu que oito de cada dez brasileiros consideram que a corrupção aumentou no país. Mas a maioria também acredita que a população pode fazer a diferença no combate a esse mal.
A pesquisa ouviu mais de 22 mil pessoas em 20 países da América Latina e do Caribe. Para 78% dos brasileiros entrevistados, a corrupção aumentou nos 12 meses anteriores ao levantamento, feito entre maio e dezembro de 2016. “Isso estava só embutido. De repente, estourou e está mais visível”, disse a depiladora Aparecida Ferreira.
O brasileiro é um dos mais dispostos a lutar contra a corrupção: se testemunhassem um caso, 81% se sentiriam obrigados a denunciar. E iriam além: “A pesquisa tem uma pergunta se as pessoas concordariam em passar o dia todo no tribunal, fornecendo evidências, relatos, sobre casos de corrupção. No Brasil, mais de 70% disseram que sim, que topariam participar dessa forma”, contou o consultor sênior da Transparência Internacional no Brasil, Fabiano Angélico.
Mesmo com tanta gente atenta ao aumento da corrupção, só 11% dos entrevistados no Brasil admitiram que já pagaram propina para acessar serviços de saúde, educação, polícia e emissão de documentos, entre outros. Número bem menor do que em países vizinhos. Na Argentina, chega a 16%, no Peru, 39% e, no México, 51%.
“É como se as pessoas estivessem dizendo assim: ‘lá é o poder Executivo, os empresários, o poder Legislativo. Esses são corruptos, nós não’. É como se a sociedade criasse um mecanismo de dissociação daquilo que é corrupção e do meu dia a dia. ‘Isso que eu faço é banal, não vai atrapalhar ninguém e eu não estou cometendo crime nenhum’”, disse a professora do Departamento de História da UFMG Heloisa Starling.
Em contrapartida, 83% responderam que a população pode combater a corrupção no dia a dia. “Quando a maioria diz: ‘eu não apenas não pago propina, mas também reajo, ou seja, denuncio, faço qualquer coisa para poder escancarar o problema’, é porque ele está percebendo que isso é algo que provoca um dano geral, em toda a sociedade”, afirmou o cientista político e professor da FGV Marco Antônio Teixeira.
“Não adianta querer cobrar o pessoal, querer cobrar político, se a gente não se cobra a nós mesmos. Porque a corrupção começa no individual. Enquanto a corrupção do individual, de cada um não acabar, a corrupção do coletivo não vai terminar”, disse o auxiliar em contábeis Bruno Rocha.