O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou em breve pronunciamento pela televisão na noite deste sábado a prorrogação da validade das notas de 100 bolívares até 2 de janeiro.
Ao mesmo tempo, anunciou que o fechamento das fronteiras com o Brasil e com a Colômbia será prorrogado até a mesma data “reforçando-se todas as medidas de segurança”.
No domingo passado, Maduro havia decretado a retirada obrigatória de circulação dessas notas, que são as de maior valor e representam quase metade do dinheiro em circulação no país. A medida foi justificada pelo presidente como uma ação para desbaratar um suposto complô urdido pelos Estados Unidos e executado pelas “máfias de Cúcuta e de Maicao” – duas cidades colombianas fronteiriças com a Venezuela — com o objetivo de “desestabilizar a economia nacional”.
Na quinta-feira, encerrou-se o prazo inicial de 72 horas definido pelo Governo para a entrega das notas, pela população, nos guichês dos bancos comerciais. Na sexta-feira, quando o comércio se negou a receber essas notas dos consumidores e se restringiu a operação de troca ou de depósito delas no Banco Central da Venezuela (BCV), desencadeou-se uma onda de protestos violentos e saques contra estabelecimentos comerciais em pelo menos dez estados do país. Mais de cem locais foram atingidos, incluindo agências bancárias, e uma pessoa morreu.
No sábado, a situação permanecia tensa nos estados de Táchira, Zulia e Bolívar. Na capital deste último, Ciudad Bolívar, foram registrados saques durante toda a madrugada. O prefeito local decretou uma espécie de toque de recolher para menores de idade e motociclistas, que estão proibidos de sair às ruas até esta segunda-feira.
Para acalmar os ânimos, o governador chavista do estado de Bolívar, general Francisco Rangel Gómez, havia decido autorizar o uso das notas de 100 bolívares como meio de pagamento no seu estado.
Os distúrbios parecem ter levado Maduro a desistir de aplicar a sua heterodoxa medida do dia para a noite. Além disso, a situação tendia a piorar ainda mais. Enquanto o Governo se esforçava para retirar do mercado as seis bilhões de notas de 100 bolívares, um grande atraso era registrado no cronograma de produção de novas notas de valor maior, que, segundo as autoridades do BCV, deveriam entrar em circulação na última quinta-feira (15 de dezembro). Segundo informou a agência Bloomberg na sexta-feira, as novas notas, impressas pela empresa Crane Currency, ainda estavam na Suécia, de onde seriam enviadas à Venezuela.
Poucos minutos antes de anunciar a prorrogação do prazo de recolhimento das notas de 100 bolívares, Maduro havia denunciado diante de milhares de simpatizantes reunidos em uma manifestação de apoio, na avenida Bolívar (no centro de Caracas), uma “sabotagem internacional” que procura evitar a chegada à Venezuela das novas notas de valor maior.
Os governistas convocaram uma “marcha antigolpista” de funcionários públicos e militantes, na data em que se lembra a morte de Simón Bolívar, para provar a si mesmo e a seus adversários que, como nos velhos e bons tempos, mesmo em meio à pressão da crise econômica e de governabilidade, ele ainda é capaz de promover grandes mobilizações de massa.
“Estamos sendo vítimas de uma sabotagem internacional que quer evitar que as novas notas, que já estão prontas, sejam transportadas para a Venezuela”, afirmou Maduro.
O chefe de Estado disse que, na véspera, havia se “inteirado de todos os detalhes” de modo a agilizar a chegada das notas.
A apenas alguns quarteirões de onde Maduro discursava, milhares de pessoas faziam filas para chegar a um dos 150 guichês abertos na sede do BCV a fim de depositar seus maços de notas de 100 bolívares, que já estão oficialmente fora de circulação.
As idas e vindas do Governo geraram incertezas e caos em uma economia já combalida depois de uma queda entre 9% e 12% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma inflação que beira os 1.000% ao ano.
Durante a manifestação, Maduro adiantou que implantará em janeiro um sistema eletrônico de pagamentos, com uso de cartões e celulares, que permitirá driblar as atuais dificuldades no trato de papel-moeda. Para isso, afirmou, o país contará com uma tecnologia fornecida por seus aliados da China.
No sábado também se noticiou que uma manifestação de mulheres no vilarejo de Ureña, no estado de Táchira (sudoeste da Venezuela) rompeu com o cordão formado por efetivos da Guarda Nacional que fechavam a passagem dessa localidade fronteiriça para o departamento de Norte de Santander, na Colômbia.
Na última segunda-feira, o Governo havia decretado o fechamento da fronteira com o país vizinho por três dias. Desde então, veio prolongando e ampliando esse fechamento, atingindo também a fronteira com o Brasil. Caracas argumenta que parte de seu papel-moeda é extraviada para os países fronteiriços clandestinamente.
Diante da revolta, as autoridades militares presentes em Ureña fizeram um acordo com a população para manter um “corredor humanitário” no sentido da Colômbia até as oito da noite. Mais tarde, em Caracas, Maduro reiterou que o fechamento das fronteiras, prorrogado até 2 de janeiro, contemplará medidas que visam a atenuar “situações humanitárias”.