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Fortaleza Antiga/Porto de Fortaleza nos anos 40, mais conhecido como Ponte Metálica

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Fortaleza abandonaria de vez os últimos costumes da sua “fase francesa” e passaria a ver nos Estados Unidos o novo modelo a ser seguido. Sai o champanhe e entra a coca-cola. A fama do refrigerante era tanta que as moças que namoravam os soldados e oficiais americanos eram apelidadas de “coca-colas”. Estima-se que entre os anos de 1943 e 1946, cerca de 50 mil americanos passaram por Fortaleza.

“Os anos 40 marcam uma mudança na orientação dos modelos estrangeiros entre nós. Os padrões Europeus vão ceder lugar aos valores americanos, transmitidos pela publicidade, cinema e pelos livros em língua inglesa que começam a superar em número as publicações de origem francesa (…) Os padrões de orientação vigentes são, portanto, os do mundo do star system e do american broadcasting. No rádio, este é o período em que a música americana se expande, e se consolida uma forma de tocar “boa música”, a orquestral, que se constitui tendo por modelo os conjuntos americanos”. (Renato Ortiz)

Aventura e coragem

Quatro pescadores cearenses se lançaram ao mar para uma viagem que entrou para a história. Manoel Olímpio Meira (Jacaré), Raimundo Correia Lima (Tatá), Manuel Pereira da Silva (Mané Preto) e Jerônimo André de Souza (Mestre Jerônimo), que a bordo de uma jangada singraram os 2.381 km que separam Fortaleza do Rio de Janeiro, sem bússola ou carta náutica.

Partiram da antiga Praia do Peixe (hoje, Iracema), em 14 de setembro de 1941, e chegaram ao seu destino dois meses depois.

Antiga Praia do Peixe onde começou a jornada dos jangadeiros cearenses (foto de 1946)

Os jangadeiros queriam chamar a atenção do País e do governo para o estado de abandono em que viviam os 35 mil pescadores do Ceará. Morando em toscas palhoças, nem do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos eles recebiam ajuda. O presidente da República precisava saber daquilo. Ficou sabendo.

Em 16 de novembro, Getulio Vargas recebeu os quatro jangadeiros, que pouco antes haviam sido acolhidos apoteoticamente pela população carioca e conduzidos em carro aberto até o Palácio do Catete.

Jacaré, Tatá, Mané Preto e Mestre Jerônimo em foto de 1942

O retorno a Fortaleza, em 1º de dezembro, após sete horas de voo, foi uma apoteose ainda maior que a do Rio. Um cortejo de 150 automóveis seguiu os heróis da terra do aeródromo do Alto da Balança ao Jangada Clube, na Praia de Iracema, onde foram recebidos, entre outros, pelo interventor Menezes Pimentel.

A odisseia da São Pedro, contudo, estava condenada a entrar para a história do cinema americano. Orson Welles tomou conhecimento da proeza de Jacaré & Cia, e decidiu realizar, com base nessa história, o segundo episódio brasileiro de It’s All True, o filme pan-americano que o governo Roosevelt há pouco lhe encomendara.

O líder dos jangadeiros Manoel Olímpio Meira (Jacaré)

Dois meses mais tarde, Jacaré e seus três companheiros foram levados de avião até o Rio. Rodariam no aeroporto a despedida do Rio e reconstituiriam, numa praia da Barra da Tijuca, a triunfal chegada da jangada São Pedro à Baía de Guanabara. Várias tomadas da chegada ao Rio chegaram a ser feitas, no dia 19, mas uma manobra infeliz da lancha que rebocava a jangada a teria virado, jogando ao mar agitado os seus quatro tripulantes. Três se salvaram. O corpo de Jacaré desapareceu e nunca foi encontrado.

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