As previsões da safra recorde de grãos para 2016/2017, que pode atingir 213,1 milhões de toneladas, têm estimulado produtores rurais a investirem em maquinário. Após forte queda nos últimos meses, a venda de tratores e máquinas agrícolas mostra reação, especialmente após a retomada do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras, o Moderfrota.
Reativada pelo governo, a linha do BNDES é voltada ao financiamento de itens novos e usados, como tratores, colheitadeiras, pulverizadores, plantadeiras, semeadoras e equipamentos para beneficiar café. Produtores rurais individualmente ou reunidos em cooperativas podem solicitar os recursos. As taxas de juros variam de acordo com o faturamento anual dos agricultores e não há limite para o valor do financiamento.
Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) comprovam o reaquecimento das vendas de maquinários: entre julho e setembro deste ano, produtores de todo o País acessaram quase 60% do total de R$ 5 bilhões destinados aos financiamentos pelo Moderfrota.
Já segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a comercialização de máquinas agrícolas aumentou 61,3%, em relação a novembro do ano passado. No mesmo mês, foram produzidos 5.331 equipamentos agrícolas e rodoviários – um crescimento de 38,1% na comparação com o mesmo mês de 2015.
Com as previsões de supersafra e as vendas de maquinário em alta, o Ministério da Agricultura estuda remanejar, ainda este ano, R$ 2,5 bilhões de outros programas de crédito rural para o financiamento de máquinas agrícolas.
Modernização da frota
O paranaense Valdir Piazza Topanotti planta 3 mil hectares de soja em uma fazenda a 15 km da cidade de Lucas do Rio Verde, no norte do estado do Mato Grosso. Depois de dois anos de estiagem prolongada, o agricultor espera retornar às melhores médias históricas de saca colhida por hectare plantado.
Para isso, decidiu investir. Em setembro, comprou dois tratores novos para substituir os que usava havia 17 anos. Com a ajuda do Moderfrota, financiou 90% dos veículos. Sem a linha de financiamento, Topanotti acredita que não conseguiria comprá-los. “Esses tratores foram direcionados à distribuição de fertilizantes na lavoura. Por ser um trator de maior potência, com maior capacidade de efetuar o trabalho, então acredito que vai melhorar minha produção”, explica.
Crescimento nas vendas
Para revendedores de máquinas agrícolas e tratores de Mato Grosso, a existência do Moderfrota é fundamental e as perspectivas são promissoras. Walter Zacarkim é proprietário de cinco lojas – uma na capital, Cuiabá, e outras quatro no interior do estado. Ele destaca que 95% das vendas são feitas com financiamentos do programa. “Sem Moderfrota não existe agricultura, porque o produtor não consegue manter o índice de qualidade nos seus produtos. O Moderfrota vem ajudar [o agricultor]a ter as máquinas agrícolas adequadas para a lavoura.”
O empresário cita como exemplo a necessidade de aplicar uma média de 400 kg de adubo por hectare na plantação de soja, o que tornaria praticamente inviável manter a produtividade sem máquinas com essa capacidade de trabalho.
Zacarkim prevê ainda que o segmento vai crescer mais. “Nós estamos muito otimistas. As nossas vendas este ano devem aumentar 10% em relação ao ano passado, que não foi ruim.”
Também revendedor de tratores e máquinas em Mato Grosso, Ernandes Vendrame abriu a primeira loja há 34 anos, em Cuiabá. O negócio prosperou e hoje tem mais três unidades no interior do estado. O foco são pequenos e médios produtores. Somente este ano, conta, já vendeu 32 máquinas pelo Moderfrota. “Sem o Moderfrota, dificilmente o agricultor teria recurso próprio, particular, para investir em maquinário novo.”
Nesse ritmo de retomada, o empresário estima que as lojas dele aumentem de 15% a 20% as vendas com essa linha de crédito, no próximo ano. “A tendência agora para 2017 é crescer, porque a gente já foi no nível mais baixo que teve na produção de máquinas [agrícolas] e revenda”, avalia.
Supersafra
O otimismo dos produtores e dos revendedores de maquinário do norte de Mato Grosso é estimulado pelas previsões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que estima que a safra de grãos 2016/2017 pode chegar a 213,1 milhões de toneladas – um crescimento de 14,2% da produção em comparação à safra anterior. No caso específico da soja, a projeção é de aumento de 7,3% na produção, podendo atingir 102,45 milhões de toneladas.
Carlos Alberto Simon é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Lucas do Rio Verde. Também migrante do sul do País, chegou à região da BR-163, em 1985, e hoje planta 1.000 hectares de soja e milho. Ele afirma que o regime de chuva voltou ao normal e, por isso, está confiante no aumento da safra. “O início do plantio se deu 15, 20 dias antes do ano passado. E as lavouras estão bem desenvolvidas. Está chovendo bem. A expectativa é de uma colheita bem acima da média do ano passado”, afirma.
Em linha com as projeções de supersafra da Conab, ele acredita que a colheita deve ficar acima da média de 55 sacas de soja por hectare, o que vai garantir lucratividade para os produtores.
Fonte: Portal Brasil