A fragilidade técnica de uma Austrália orientada a defender serviu para testar a capacidade do Brasil, com oito alterações em relação ao time que enfrentou a Argentina, de mexer as peças e encontrar espaços em campo. Mas, na goleada por 4 x 0 sobre os donos da casa, ninguém aproveitou tanto a oportunidade para conquistar o próprio espaço na seleção como Diego Souza. O jogador do Sport, de Recife, preenche requisitos valorizados pelo técnico Tite. Versátil, pode jogar como meia, atacante aberto pelos lados ou centroavante, como tem sido utilizado na seleção.
Diante dos australianos, Diego Souza abriu o placar logo aos 10 segundos de jogo, aproveitando enfiada de bola de Giuliano e batendo cruzado. Marcou o gol mais rápido da história da seleção brasileira. Ele superou o recorde de Neymar, que, no ano passado, havia anotado aos 14 segundos contra Honduras, pela Olimpíada. O gol-relâmpago não foi o único momento de brilho de um jogador que vive de lampejos em sua carreira.
Embora não seja exatamente a mesma zona de atuação no Sport, Diego Souza executou bem o papel de Gabriel Jesus, cortado após sofrer uma fratura no rosto contra a Argentina. Saiu da área, fez movimentações laterais, sobretudo com Giuliano, pela direita, e preparou jogadas para os companheiros como pivô. Cumpriu à risca a função de centroavante com mobilidade exigida por Tite desde que assumiu a seleção.
No segundo tempo, ele perdeu uma oportunidade que parou na defesa do goleiro Langerak. Ainda assim, seguiu sendo presença constante no ataque brasileiro. Estava na disputa com os zagueiros na jogada do gol de Thiago Silva e, novamente no pivô, serviu Paulinho, que ajeitou de calcanhar para o gol de Taison. Depois de inaugurar o marcador no primeiro lance, coube ao atacante a tarefa de fechar a conta no último ato do amistoso, cabeceando para as redes o escanteio cobrado por Willian.
Ao fim, Diego Souza resumiu a chance bem aproveitada no amistoso. “É um sonho estar na seleção. Me sinto muito à vontade e fico feliz pelos dois gols. A equipe tem muita qualidade e a bola chega com facilidade na frente”, disse o atacante. Um diagnóstico preciso que marca a diferença entre suas funções no Sport e na seleção. Como não conta com parceiros de ataque tão qualificados no clube pernambucano, onde é a principal referência técnica, Diego tem mais responsabilidades sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Precisa se deslocar ao meio para ajudar na criação de jogadas e perde poder de fogo longe da área, o que não o impediu de se consagrar como um dos artilheiros do Campeonato Brasileiro no ano passado pela equipe rubro-negra.
Tite tem dito, como em entrevista ao EL PAÍS, que pretende valorizar o desempenho dos atletas fora da seleção e aproveitar a função que cumprem em seus respectivos clubes. Diego Souza atuou em posição diferente da habitual nesta terça-feira e, mesmo assim, foi decisivo. Ganhou pontos que podem fazer com que o técnico siga relativizando o jogo pouco produtivo do Sport nesta temporada.
Aos 31 anos, o atacante voltou a ser chamado para a seleção em janeiro. Não era convocado desde 2011. Havia mais de 15 anos que o Sport não tinha um jogador representando o Brasil. Regularidade sempre foi o calcanhar de Aquiles de Diego Souza. No Sport, porém, as boas atuações viraram rotina. Somadas ao futebol convincente que tem demonstrado sempre que requisitado na seleção, elas o colocam em pé de igualdade com Roberto Firmino na briga por uma vaga como primeira opção a Gabriel Jesus para a Copa do Mundo.
EL PAÍS