Um ex-executivo da empreiteira Odebrecht afirmou em delação premiada que parte de um valor prometido pela construtora ao PMDB na campanha eleitoral de 2014 foi entregue em dinheiro vivo no escritório de advocacia de José Yunes, amigo e assessor do presidente Michel Temer.
Disse ainda que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) era um dos operadores dos recursos para Temer.
O ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho foi o autor da delação à força-tarefa da Operação Lava Jato.
São citados na delação mais de 20 políticos, entre eles, outros caciques do PMDB como Renan Calheiros, Moreira Franco, Eduardo Cunha, Eunício Oliveira e Romero Jucá. Também é citado o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Todos teriam recebido dinheiro da empreiteira.
A informação foi publicada pelo site BuzzFeed nesta sexta-feira (9) e confirmada pela Folha.
A Odebrecht assinou no dia 1º de dezembro o acordo de leniência com os procuradores da Lava Jato. No dia seguinte, foi concluído o processo de assinatura de acordos de delação premiada de 77 executivos do grupo.
Para que as delações sejam homologadas (validadas) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, os executivos precisam prestar depoimentos aos procuradores detalhando os fatos que apresentaram de maneira resumida ao longo da negociação, nos chamados anexos. A expectativa é que todos estejam concluídos até o fim deste ano.
JANTAR NO JABURU
Em relação ao assessor do presidente Michel Temer, Melo não apontou quem teria recebido o dinheiro entregue no escritório de Yunes em São Paulo.
O delator disse que o montante fazia parte do valor de R$ 10 milhões que havia sido prometido pelo herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht, ao PMDB, em 2014.
O repasse resultou de um pedido de apoio financeiro feito por Temer a Odebrecht em maio daquele ano, quando o peemedebista ainda ocupava a vice-presidência.
A solicitação foi feita em jantar no Palácio do Jaburu [residência oficial do vice], do qual também teria participado o ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha (PMDB-RS), segundo Melo.
Em agosto passado, a revista “Veja” já havia antecipado as informações sobre o pedido e o repasse da Odebrecht ao PMDB na delação de executivos da construtora.
No fim da tarde desta sexta, a revista voltou ao assunto, ao antecipar em seu site parte do conteúdo de reportagem sobre a colaboração premiada de Melo. Segundo a “Veja”, o ex-executivo da Odebrecht delatou que Yunes e Padilha receberam em dinheiro vivo parte do valor repassado pela construtora.
PLANALTO
A assessoria da presidência da República afirmou que não é verdadeira a versão de que Yunes tenha recebido dinheiro em seu escritório.
“A informação é completamente falsa. José Yunes jamais recebeu recursos em seu escritório e não arrecadou recursos para campanhas”, segundo a assessoria.
“O que já foi admitido anteriormente é que o presidente conversou com Marcelo Odebrecht e solicitou auxílio para campanha. O auxilio foi dado de forma legal e as contas foram devidamente prestadas ao TSE”, completou.
Em outra nota, o presidente Michel Temer afirma repudiar “com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho”. “As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente.”
O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) também se manifestou: “Não fui candidato em 2014! Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira! Tenho certeza que no final isto restará comprovado.”
“Não posso comentar o que não conheço, mas posso afirmar que as doações da Odebrecht em minhas campanhas estão declaradas à Justiça Eleitoral”, disse o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
“É mentira. Reitero que jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com o senhor Claudio Melo Filho”, disse o secretário-executivo do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), Moreira Franco (PMDB-RJ).
CONGRESSO
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por meio de sua assessoria, informou que “o senador jamais credenciou, autorizou ou consentiu que terceiros falassem em seu nome em qualquer circunstância”.
“Reitera ainda que a chance de se encontrar irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais é zero. O senador ressalta ainda que suas contas já são investigadas há nove anos. Em quase uma década não se produziu uma prova contra o senador”.
Em nota, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) disse que “nunca autorizou o uso de seu nome por terceiros e jamais recebeu recursos para a aprovação de projetos ou apresentação de emendas legislativas”. “A contribuição da Odebrecht, como as demais, fora recebidas e contabilizadas de acordo com a lei. E as contas aprovadas pela Justiça eleitoral.”
Em nota, a assessoria do presidente da Câmara afirma que todas as doações eleitorais recebidas foram legais e devidamente declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral.
“O deputado nega com veemência a acusação de ter participado de qualquer tipo de negociação com a Odebrecht para aprovação de medida provisória ou de outra proposta legislativa. Ele afirma que as declarações veiculadas pela imprensa são ‘absurdas’ e que nunca recebeu nenhuma vantagem indevida para votar qualquer matéria na Casa.”
O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse desconhecer a delação de Claudio Melo Filho e nega que ter recebido recursos para o PMDB. “O senador também esclarece que todos os recursos da empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do governo, sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação de projetos que tramitavam no Senado. O senador reitera que está à disposição da Justiça para prestar quaisquer esclarecimentos”, diz sua assessoria em nota.