Diante da impossibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir os inquéritos da Lava-Jato até o ano que vem, os políticos citados na lista de Edson Fachin/Rodrigo Janot vão para as eleições gerais de 2018 carimbados com o rótulo de investigados. A situação ficará mais complexa para candidatos a cargos majoritários, como Senado, governos estaduais e presidência da República. Nas eleições proporcionais, a chance de se esconder em uma chapa de partidos ou na lista fechada pode aumentar as possibilidades de êxito nas urnas.
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Essa dificuldade cria um outro embaraço, desta vez, para o governo. Os políticos, por uma questão de sobrevivência, também devem ter mais dificuldades em aprovar medidas impopulares, como as reformas da Previdência e trabalhista. “A única alternativa seria se a aprovação das reformas conseguisse dar um choque de otimismo, os investidores despejassem recursos infinitos e o otimismo remontasse à 2010. Mas isso não vai acontecer, não dá tempo”, afirmou o cientista político do Insper, Carlos Melo.
Os inquéritos abertos a partir das delações da Odebrecht provocaram estragos em linhas sucessórias estaduais importantes. Minas, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Maranhão e outras unidades da Federação que tiveram os principais caciques partidários avariados pelas denúncias. Os três presidenciáveis do PSDB — Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra — têm inquéritos. Maior estrela do PT e candidato do partido ao Planalto em 2018, Luiz Inácio Lula da Silva terá de se virar para explicar-se na Justiça Federal do Paraná.
“Não há ainda como cravar que em 2018 trocaremos completamente o establishment político brasileiro. Mas teremos o início de uma renovação, que poderá vir até por dentro, com a eleição de filhos e parentes dos citados na Lava-Jato”, avaliou o analista político da XP Investimentos, Richard Bach. “Agora, com o levantamento dos sigilos, os vídeos dos depoimentos dos ex-executivos vão viralizar nas redes sociais”, completou Richard.
Ajuda
Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, a crise também pode ajudar o governo Temer em pelo menos um quesito: a continuidade da gestão do peemedebista. “Com esse Congresso completamente envolvido na Lava-Jato, ninguém vai torcer pela derrubada de Temer via Tribunal Superior Eleitoral e deixar nas mãos dos parlamentares a missão de escolher um presidente temporário pelo voto indireto”, cravou Toninho.
Com o agravamento da crise, até mesmo os mecanismos de autoproteção do Parlamento ficarão comprometidos. Deputados experientes acreditam que ficará muito mais difícil, a partir de agora, aprovar propostas como anistia ao Caixa 2 e a lista fechada para deputados. “A lista fechada é a melhor alternativa para uma eleição que terá de ser financiada com dinheiro público. Mas passará a impressão de que queremos nos esconder nela”, protestou um integrante da Comissão Especial da Reforma Política.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), ele próprio um citado nos escândalos da Lava-Jato e que conseguiu provar a inocência, alertou ontem que o Parlamento perdeu toda a credibilidade para votar qualquer proposta que envolva mudanças constitucionais. “Essas matérias só poderão ser votadas após uma consulta popular, seja um plebiscito ou um referendo. Precisamos de respaldo do cidadão para aprovar essas mudanças”, acrescentou Delgado.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), mantém a confiança na aprovação da reforma da Previdência. “O governo não parou nem vai parar. Não temos por que misturar Judiciário com Executivo e Legislativo. Cada um cumpre seu papel”, destacou Jucá, um dos recordistas em número de inquéritos no Supremo, com cinco pedidos de investigação envolvendo a Lava-Jato. “Deixa o Judiciário cumprir o papel dele. Nós vamos apoiar. Eu apoio”, assegurou.
O parlamentar garante que a lista do Fachin não impõe dificuldades para a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. “Pelo contrário. Estamos ajustando as propostas para melhorar o grau de facilidade”, disse. Jucá avalia que deputados e senadores continuarão tendo legitimidade e autoridade para tocar as discussões das propostas. “Até que se prove a culpa, todos são inocentes. Não há demérito em ser investigado, mas, sim, em ser condenado”, avaliou.
Correio Brasiliense