Delatores da Odebrecht disseram que o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine usou sua influência assim que assumiu o comando da petroleira, em fevereiro de 2015, para “achacar” executivos da Odebrecht em troca de uma “comissão” de R$ 17 milhões, referente a um empréstimo concedido a uma das empresas do grupo quando ele ainda presidia o Banco do Brasil.
O relato está na petição da Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar Bendine, encaminhada à Justiça Federal do Paraná pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. A petição se baseia nos depoimentos do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e do ex-presidente e fundador da Odebrecht Agroindustrial, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis.
Dívida com o Banco do Brasil
Segundo o documento, os delatores afirmam que, entre os anos de 2014 e 2015, foram procurados por Bendine, quando era presidente do BB, pedindo vantagem indevida para conceder um empréstimo à Odebrecht Agroambiental (unidade de açúcar e etanol do grupo).
Segundo Marcelo Odebrecht, Bendine pediu a Reis uma comissão de 1% para reestruturar uma dívida de R$ 1,7 bilhão do Banco do Brasil com a Odebrecht Agroindustrial, quando ainda era presidente do banco, em 2014. O pedido teria sido feito por intermédio do publicitário André Gustavo Vieira.
Em seu depoimento, Reis disse que Vieira indicou que Bendine antes só recebia as ordens para “fazer as coisas”. A intenção era criar um novo canal direto com Bendine para as negociações, dizem os delatores.
Marcelo relata ter negado o pedido. “Não concordei, achei que não era o caso. A gente nunca tinha visto isso no Banco do Brasil”, disse o delator. O empréstimo foi liberado sem o pagamento de propina depois de alguns meses, com atraso, segundo Reis, quando Bendine já estava à frente da Petrobras.
Nomeação na Petrobras
Pelos depoimentos de Reis e Odebrecht, a coisa “mudou de figura” quando Bendine foi confirmado para assumir a presidência Petrobras em meio à crise desencadeada pela operação Lava Jato, em janeiro de 2015 (no vídeo acima, veja a partir dos 3’05”). Ele assumiu o lugar de Graça Foster com a missão de salvar a reputação da empresa, desestruturada pelas denúncias de corrupção.
“[Com a Petrobras] a agenda da Odebrecht era mais densa e sensível, principalmente pelos efeitos da Lava Jato”, relata Reis.
À época, os executivos dizem que passaram a ser procurados por Bendine, que os chamou para uma reunião. Segundo o relato de Reis, o novo presidente da Petrobras disse ter sido encarregado pela presidente Dilma como “interlocutor do governo” para tratar de questões com o empresariado a fim de atenuar os efeitos da Lava Jato.
“A gente estava cedendo por conta da posição dele como presidente da Petrobras, nada a ver com o Banco do Brasil ou a Odebrecht Agroindustrial”, diz Marcelo Odebrecht.
De acordo com Reis, Bendine falou de questões da Petrobras e menciou ao final da reunião que seria importante os executivos reconhecerem o trabalho feito pelo BB quanto ao crédito da Odebrecht Agroindustrial.
“Uma coisa eu sabia era a capacidade dele de incomodar a gente com um empréstimo no Banco do Brasil que tinha embasamento técnico. Outra coisa era a Petrobras”, relata Odebrecht no vídeo, mencionando o fato de que tudo mudou quando Bendine se tornou um dos interlocutores com as empresas envolvidas na Lava Jato. “Imagine a situação”.
Pagamento em 3 parcelas
Marcelo conta que após ter resistido ao que chamou de “achaque” por parte de Bendine, autorizou um pagamento bem menor que os R$ 17 milhões solicitados, de três parcelas de R$ 1 milhão. Duas delas teriam sido feitas quando ele já estava preso, em junho de 2015.
A petição número 6.646 cita que o pagamento foi feito pela equipe de Hilberto Silva, apontado na Lava Jato como integrante do setor de propinas da construtora. “A gente estava cedendo por conta da posição dele como presidente da Petrobras, nada a ver com o Banco do Brasil ou a Odebrecht Agroindustrial”, diz Marcelo.
Após os três pagamentos, Reis relata que o publicitário ligado a Bendine o convidou para almoçar com ele em São Paulo para dar um “abraço de solidariedade”. Ao fim do encontro, foi comentado com o publicitário que os pagamentos não poderiam ser reativados, em um momento em que o departamento de “propinas” da Odebrecht já havia sido desativado em meio à Lava Jato.
Procurado pelo G1, Bendine não se pronunciou. Ele presidiu o BB durante 2009 e 2015, quando assumiu a presidência da Petrobras, e renunciou ao cargo em maio de 2016.
G1