Aos 11 anos, cearense é medalha de ouro em Olimpíada de Astronomia: ‘gosto dos planetas e continhas’
Ter a exata dimensão do tamanho das conquistas, diante dos obstáculos do trajeto, ainda é condição distante aos 11 anos de idade. Mas, Lucas Raí Nogueira Prudêncio Ferreira, morador da periferia de Fortaleza e estudante da rede pública municipal, se entusiasma com o que já alcançou e sente que é motivo de orgulho. “Quero conseguir mais”, expressa.
Em 2022, ele foi medalhista de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Um dos alunos da rede pública municipal a alcançar o feito. Estudante do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professor José Círio, Raí reside em uma área pobre da cidade, na qual a criação de oportunidades via educação é tão necessária quanto estruturante.
Esta matéria integra a série “Terra de Sabidos”, publicada pelo Diário do Nordeste e com patrocínio Assembleia Legislativa do Ceará, cujo foco é contar histórias de estudantes da rede pública estadual do Ceará e da rede municipal de Fortaleza, que, via educação, tiveram as trajetórias alteradas, conquistado oportunidades, e reconhecimentos local, estadual e nacional.
TERRA
Das preferências por matemática e ciências se renova no cotidiano o gosto pelos assuntos envolvendo “os planetas e também as continhas”, como ele descreve.
“A prova (da OBA) eu fiz no colégio. Fiquei muito nervoso quando peguei a prova. Eu pensei que a prova seria difícil, mas quando vi as questões não era tanto. Fui resolvendo, fazendo as continhas e marcando as respostas”.LUCAS RAÍ NOGUEIRA PRUDÊNCIO FERREIRAEstudante
Na turma, conta ele, os amigos gostam de matemática, português, artes e ciências. Às vezes, quando tem segurança que sabe o conteúdo, relata Raí, tenta auxiliar os colegas de sala, “se eles têm dúvida, eu falo bem direitinho. E eles conseguem encontrar as respostas”.
REAÇÃO AO BOM DESEMPENHO
Quando ganhou a medalha de ouro e alcançou o relevante desempenho na Olimpíada foi informado do feito pela diretora da escola. Em seguida, houve o reconhecimento público no pátio da instituição. “Mãe, a diretora me chamou na diretoria e fiquei com medo de ser alguma reclamação e levei até a agenda”, contou em casa.
O temor deu lugar ao justo orgulho. Naquele momento, a felicidade pela conquista se manifestou em fotos enviadas aos parentes e postagens nos stories do whatsapp. Demonstrações de alegria. Um primo de idade semelhante à de Raí, conta a mãe do estudante, Maria Fabiana Nogueira, destacou: “quero ser que nem ele e ganhar medalha também”.
Na escola, Raí estuda no turno da tarde e de segunda a quinta-feira participa de reforço. Sua mãe, Fabiana Nogueira, trabalha na recepção de uma academia no próprio bairro. Ao definir o filho, o descreve como um garoto tímido e esforçado.
“Quando anuncia que vai ter prova, ele fica bem animado. Falo pra ele focar. Se concentrar. Nas reuniões (da escola) não recebo nenhuma reclamação”, conta a mãe.
Em 2023, Raí precisará mudar de escola, pois a atual só tem até o 5º ano do fundamental. Ele deve seguir para uma unidade de tempo integral.
O empenho, o interesse e os resultados de Raí já são evidentes. De modo simples e tímido, ele se destaca. A capacidade de aprendizado e o comprovado rendimento vão, aos poucos, ampliando esse espaço. Mudar o percurso via educação é uma alternativa real.
Morador da periferia e estudante de escola pública, Raí, aos 11 anos, talvez ainda não dimensione que enfrenta estigmas e descréditos. Seguirá enfrentando. E superá-los não depende somente de seus feitos individuais. Requer a garantia de que o estudante terá chances, investimentos e estrutura.
DIÁRIO DO NORDESTE