Por Freitas Cordeiro/Focus.jor
Post convidado
Em meio a tanto tumulto, atônito, a exemplo da maioria dos brasileiros, optei por me resguardar, apesar das inúmeras manifestações de leitores solicitando o retorno das reflexões que alguns denominam de pérolas, o que muito me envaidece. Neste espaço tenho procurado expressar minhas convicções, me reportando aos temas mais impactantes do dia a dia.
A temática do momento é a grave “greve” dos caminhoneiros que surpreendeu a Nação, muito embora, alguns observadores mais perspicazes denunciassem, há já muito tempo, que o detonador da “bomba” estava armado.
A motivação da ação paredista seria o escorchante preço dos combustíveis, que traz em sua composição uma extravagante carga tributária, agravada pela política da Petrobras, a nosso ver equivocada, de atualizá-los diariamente, acarretando instabilidade ao mundo negocial dos fretes.
Será que nosso combustível é, de fato, muito caro?
Pesquisei junto à Global Petrol Price, instituição das mais credenciada que, em data de 21.05.18, apontava:
A gasolina mais cara do mundo:
Hong Kong – R$ 7,73
Islândia – R$ 7,70
Noruega – R$ 7,44
Holanda – R$ 7,11
Dinamarca – R$ 7,04
A gasolina mais barata:
Venezuela – R$ 0,04
Irā – R$ 1,02
Sudāo – R$ 1,24
Kuwait – R$ 1,28
Algéria – R$ 1,31
Neste ranking, com o preço médio de R$ 4,30 ( antes da especulação provocada pela ação paredista) o Brasil ocupa 91° lugar, ao lado da África do Sul.
A Venezuela tem as maiores reservas petrolíferas comprovadas do planeta. Entretanto, no que pese o valor da gasolina estabelecida em incríveis quatro centavos, vive o maior colapso econômico de sua história, numa prova evidente que não será somente o preço do combustível o fator de desenvolvimento de uma Nação.
O combustível é um dos insumos que compõe a matriz de custos do frete rodoviário, a que, por infeliz erro estratégico de nossa política nacional, estamos escravizados, numa desastrada e nefasta dependência.
Não bastasse o jugo ao modal rodoviário, o Estado elegeu o combustível, insumo essencial à atividade transportadora, como relevante matriz geradora de tributos, constituindo uma perigosa dependência, sem margem para flexibilidade em casos de crises como a que hora enfrentamos.
A composição dos custos do frete é complexa e contempla, entre outros fatores:
Custos fixos: Salários, encargos sociais e benefícios de motoristas e ajudantes, remuneração mensal do capital, oficina, licenciamento, lavagem, seguro do equipamento e a depreciação do veículo e do equipamento e etc.
Custos variáveis: Combustível, pneus e recauchutagens, lavagem e graxas, lubrificantes, peças, acessórios e materiais de manutenção, onde o combustível tem peso, em média, de apenas 33%.
O caminhoneiro não vende combustível o que ele negocia é o valor do frete que está abaixo do ideal por conta da exarcebada concorrência, onde há excesso de oferta para pouca carga, reflexo da crise econômica que atingiu a todos segmentos produtivos, indistintamente.
Passado o momento mais crítico, o que se observa é que, no que pese a presença ostensiva dos motoristas autônomos à frente, à retaguarda, emprestando todo suporte, estavam as grandes empresas de logística que concentram 60% da movimentação de cargas no País.
Não tardou a que outros atores inescrupulosos e oportunistas passassem a se infiltrar nas manifestações, implantando o radicalismo, traduzido em ações extremadas de agressões físicas, com o propósito deslavado de implantar o caos, pouco lhes importando o altíssimo sacrifício imposto a toda Nação.
De tudo resta uma lição, neste espaço tantas vezes repetida:um País onde suas instituições basilares, sem exceção, se encontram carcomidas, sem um mínimo de legitimidade que lhes empreste respeito à representatividade que ostentam, está falido, como prova a rendição a um segmento, oferecendo um vergonhoso raio X da nossa fragilidade para o resto do mundo.
Não culpemos a Petrobras, ela é, a exemplo de todos nós empresários, empreendedores, apenas mais uma vítima no contexto deste Brasil de “faz de conta”. A ingerência política no comando daquela empresa comprometerá sua subsistência, esfacelando seu processo de recuperação.
A “bomba” permanece armada… não brinquemos com ela…
Pense nisso